Desde criança, Bettina Muradás, empresária e escritora curitibana, autora dos romances policiais “A Reportagem” e “A última sentença”, interessou-se pelo universo da literatura. Gostava de escrever poemas, tirava notas altas em suas redações e em todas as matérias relacionadas à escrita. Quando, certo dia, caíram em suas mãos as obras “Morte do Nilo” e “O Assassinato no Expresso Oriente”, de Agatha Christie, parecia que seu destino estava selado. Seria escritora. Entretanto, sua trajetória até abraçar esse ofício não se deu sem alguns desvios no caminho.
No final da infância e começo da adolescência, quando começaram a brotar ideias de como seria sua vida adulta, Bettina conjecturou caminhos bem distintos daqueles que envolviam o trabalho com a escrita. Inspirada em seu pai, engenheiro que investia em terras, a escritora aventou tornar-se agrônoma e também a seguir a carreira paterna. Esta última opção esteve mais próxima de se tornar realidade. “Cheguei a cursar um ano de engenharia civil, mas percebi, enquanto estudava, que aquilo não tinha absolutamente nada a ver com a minha personalidade”, conta.
Após passar um tempo nos EUA estudando fotografia, ela voltou ao Brasil decidida a seguir sua vocação na escrita. Achou que o jornalismo poderia fornecer subsídios para chegar até lá. Entrou na Universidade Federal do Paraná e antes de concluir o curso já estava trabalhando na área. Foi chamada para escrever a coluna social do jornal O Estado do Paraná. Já formada, foi trabalhar na agência de publicidade Umuarama, pertencente ao extinto Banco Bamerindus. Lá, tornou-se responsável pela comunicação interna da instituição financeira. Com verba ilimitada, conseguiu colocar em prática grandes ideias, contribuindo para que a agência conquistasse muitos prêmios na área.
Depois de uma breve incursão pelo universo da assessoria de imprensa, Bettina foi trabalhar no jornal Correio de Notícias, assumindo precocemente a função de colunista. “Eu estava com apenas 26 anos de idade e tinha páginas e páginas ao meu dispor para escrever”, relata. A escritora considera o período que ficou nesse veículo como muito instrutivo, pois nele pôde exercitar a escrita passeando por diversos temas: cinema, teatro, literatura, sociedade, política etc.
A atuação mais direta com redação, tanto na agência quanto como colunista de jornal, despertou em Bettina novamente a vontade de escrever literatura que vinha adormecida com os afazeres jornalísticos. Ao afastar-se da profissão, logo após o nascimento de sua primeira filha, escreveu um manuscrito com cerca de 80 páginas chamado “Inverno no Vale”, que buscou vender em bancas de jornais. A iniciativa, no entanto, não foi bem-sucedida, resultando em muitas edições encalhadas, que foram posteriormente vendidas em uma festa da instituição beneficente na qual a mãe da escritora é voluntária.
O projeto de se tornar escritora foi então mais uma vez adiado, sendo retomado apenas em 2011 quando lançou seu segundo livro: “A Reportagem”, romance policial sobre um escândalo que expõe os bastidores da política e da justiça. Obra que já foi relançada duas vezes: uma, em 2016, pela Editora Chiado, em Lisboa, e outra, recentemente, em abril deste ano, na cidade de Nova York. Na versão em língua inglesa, recebeu o nome de “The Cayman Dossier”.
No intervalo entre deixar o jornalismo e passar a escrever de maneira mais séria, Bettina enveredou pelo empreendedorismo. Inicialmente, abriu um restaurante, que faliu.
"Encarar as dificuldades do mundo corporativo foi uma experiência muito rica", diz. Resolveu então se dedicar ao negócio da família, o que faz até hoje. Ela atua no mercado imobiliário e é pecuarista. Nesse segmento foi diretora de uma empresa vencedora seis vezes do título de melhor criador de gado da raça Nelore, participando de exposições pelo Brasil inteiro.
Precisando dividir seu tempo com a faceta empresária, Bettina se dedica à escrita em dias mais tranquilos, longe da cidade, geralmente nos finais de semana na praia. Foi a partir dessa rotina que concebeu seu terceiro livro, “A Última Sentença”, a ser publicado pela Editora Labrador, em breve. Também do gênero romance policial, a obra conta a história de uma promotora de justiça e de um jornalista que investigam um esquema de corrupção envolvendo políticos, representantes da justiça e doleiros.
A escritora e empresária afirma, por fim, que, além das inspirações literárias, vindas de escritores como Agatha Christie, Raymond Chandler e Rubem Fonseca, o tempo dedicado ao jornalismo foi essencial para que se tornasse uma escritora de romances policiais. “Foi um treinamento de pesquisa e de busca por formas de descrição de cenários e cenas. Criou também uma necessidade de incluir fatos relevantes nas tramas, criando conflitos e soluções que pudessem se encaixar nesse cenário ‘jornalístico’ que ambas as obras carregam, levando o leitor a se colocar como participante da história”, conclui.
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