terça-feira, 1 de novembro de 2011

Arturo Tejada na 2ª Semana de Moda de Curitiba


Expert colombiano em moda vem a Curitiba falar sobre mercado doméstico e internacionalização

O colombiano Arturo Tejada, diretor geral da Escola de Desenho e Mercado da Moda, em Bogotá, é um dos convidados do fórum da 2ª Semana de Moda de Curitiba.
A palestra “Ferramenta chave para a estruturação de um portfólio de produtos e serviços dirigidos ao mercado domésticos e a internacionalização” acontecerá no dia 3 de novembro, às 18 horas, na sala Londrina, no Memorial de Curitiba com entrada franca.
De Bogotá, Tejada atendeu a Semana de Moda de Curitiba:

1) Em sua opinião, como é a moda atualmente?
A moda como tal, em sua concepção clássica, assiste a mudanças dramáticas na forma como se concebe, se demanda, se usa e se comunica.
A nova consciência do desenho e as mudanças de comportamento e gostos dos consumidores, a revalorização frente à individualidade e a personalização do consumo por ele mesmo, as mudanças de estilo de vida, o auge do desenvolvimento tecnológico, especialmente em materiais e insumos que atendem a exigências de conforto, funcionalidade e de serviço. Considera-se a limitação no fornecimento ou no uso dos recursos naturais que dão origem às exigência de sustentabilidade no produto ou o serviço. Enfim, todos estes são aspectos que modificam a percepção da moda.

O que compramos nos dias de hoje é uma expressão de códigos linguísticos e de comunicação, uma maneira de satisfazer-se nos desejos pessoais e de sentir-se bem.
A moda se converte em um vasto banco de significados e estímulos, o que permite às pessoas criarem e fortalecerem suas próprias identidades e, com isso, determinar com quem se relaciona suas compras.
A moda se democratiza com a oportunidade de ter facilmente produtos de baixo preço, com maior autonomia de consumo. As pessoas se perguntam quais são as prováveis consequências quando milhões de consumidores brasileiros, chineses, indianos e russos compram moda pela primeira vez?
Os fabricantes de vestuário e os mesmos estilistas enfrentam uma série de desafios na mudança do símbolo do status ao símbolo de estilos são determinantes. Já o luxo clássico se restringe versus a pronta-entrega ou vestuário com grandes descontos. Mas, em médio prazo, a moda mudará ainda mais.
A sustentabilidade obrigará os estilistas a se voltarem a produtos que tenham características Premium (produtos altamente atrativos).

2) A velocidade da informação, pelas redes sociais, tem influência no que se faz?
A facilidade em obter informações e desenvolvimento em geração e aplicação de conhecimento tem uma velocidade impressionante. Cada vez é mais evidente a comunicação e a interação em âmbitos empresariais e sociais, o que é uma tendência importante.
É inegável também que a internet está se convertendo em um canal de relações, serviços e vendas. Além disso, o mundo na rede mundial representa contínuo recurso de novos estímulos, o que torna mais sutil o confim cada vez mais tênue entre o real e o virtual.
Os locais, tanto virtuais como reais, se transformam em uma grade praça que oferece oportunidades expressivas, quase ilimitadas para pessoas e empresas.
Uma coleção, casting e comunicação focalizada não estão para oferecer produtos contextualizados em cenários de consumo precisos. O sucesso global de MySpace, Facebook e Twitter (entre outros) se alinha com esta tendência. Hoje são elementos decisivos na evolução do consumo. A relação entra a subjetividade (MySpace) e potenciais interlocutores (YouTube) constitui ponto chave de indivíduos ou de pequenos grupos, que se transformam rapidamente em códigos comuns, compartilhados por um público extenso e essa é a grande oportunidade.

3) Qual o perfil de quem pensa em moda, é diferente do que se fazia há alguns anos?
Não creio que se possa definir um único perfil daqueles que se fascinam pela moda. A moda não se impõe, cada um tem suas opções e interpretações. Podemos dizer que diferente de antes, agora cada um produz e edita a sua moda.

4) Em sua opinião, como é a moda na América Latina? Quais os pontos positivos e negativos?
A América Latina não está afastada dos movimentos da moda e os efeitos da globalização a atingem.
Entretanto, podemos dizer que a moda é ainda jovem. Influenciada pela Europa e Estados Unidos em sua origem recente, hoje começa a debater os conceitos de identidade. Alguns a definem a partir do ponto de vista do folclore e o retomam para sugerir suas influências na moda.
A meu modo de ver, tem sido uma aproximação falha. Devemos entender a identidade como um sistema, ligado logicamente à cultura local, aos comportamentos locais, aos estilos mentais. Os projetos com a moda devem ser a partir destes elementos, projetos com identidade global.
A América Latina tem muito que contar e começa a pisar forte no cenário da moda.

5) O que o senhor conhece da moda brasileira?
É inegável como a moda brasileira é fértil. O Brasil é um país com projeto de identidade cultural extraordinariamente forte. Um país tão grande e diverso que dá origem a um caos criativo extraordinário e enriquecedor. São múltiplos os motivos que influenciam a moda brasileira: a poderosa natureza e sua exuberância dão ao Brasil um atributo exótico, os artistas, os estilistas e os criadores dedicam muito de seus trabalhos á preservação dos valores culturais, a seus recursos naturais e tradicionais, a música que denota a riqueza e a diversidade cultural, o modelo feminino da beleza brasileira exerce influência na estética global.
A combinação da moda com a arte, baseada na iconografia brasileira, a arquitetura e a história, as ruas do Brasil nas quais a vida cotidiana estimula a criação de seus estilistas e que as converteram em um laboratório criativo.
Brasil encarna, de maneira surpreendente, os valores das raízes brasileiras e códigos estéticos e a inovação na mescla cultural e o uso de materiais e cenários eu reforçam a imagem de uma alma tropical.
Isso fez com que a moda brasileira seja hoje na América Latina o projeto mais forte com influência global importante. O país tem marcas que estão no mercado internacional, além de ter uma poderosa indústria. Mas deve reforçar a união entre estilistas e confecções, entre estilistas e o setor têxtil, entre estilistas e artesãos, entre estilistas e distribuidores. Fortalecer a parceria público/privada em prol do desenvolvimento de uma indústria que está em plena expansão.
Haverá, possivelmente, que proteger este patrimônio do embate da competição internacional. E Brasil tem que fazê-lo.

6) Qual sua previsão e conselho para os jovens estilistas que começam a entrar neste concorrido mercado?
Para estes jovens, penso que terão um futuro alentador. Como eu disse anteriormente, a personalização do consumo, a democratização da moda, a exigência de produtos Premium com alto valor agregado, entre outros, serão fatores de estímulo para a dinâmica da indústria da moda.
Eles deverão cruzar múltiplos enfoques na construção de seus negócios. Deverão focar no mercado e deverão aprender a relacionar-se com o entorno econômico, social e de negócios. Um enfoque comercial com suficientes argumentos de venda, enfoque financeiro que o provenha ao cliente do suplemento de valor que está disposto a pagar. A comunicação dos significados e valores da marca, e por último, o enfoque tecnológico que lhe permita a permanente inovação.
Para muitos estilistas é muito fácil perder a perspectiva dos clientes e consumidores. Uma estratégia de novos produtos ou serviços implica entender claramente quem são estas pessoas e de que maneira a inovação feita melhoraria substancialmente suas vidas.
A competição nos obriga a sermos inovadores e não é unicamente conceber ideias geniais, mas implica antes deve tudo na capacidade de proporcionar avanços tecnológicos tangíveis em produtos e serviços que sejam valorizados e tidos em conta pelos consumidores.
Em outras palavras, ser inovador, mas pragmático. E por último, para os jovens empreendedores do desenho da moda, são plenamente vigentes as reflexões que Francesco Morace dizia há alguns anos sobre a equação para o sucesso. A continuidade e a evolução: a continuidade assegura a identidade e a evolução assegura a modernidade. Esta é a aposta estratégica.

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