Expert
colombiano em moda vem a Curitiba falar sobre mercado doméstico
e internacionalização
O
colombiano Arturo Tejada, diretor geral da Escola de Desenho e
Mercado da Moda, em Bogotá, é um dos convidados do
fórum da 2ª Semana de Moda de Curitiba.
A
palestra “Ferramenta chave para a estruturação de um
portfólio de produtos e serviços dirigidos ao mercado
domésticos e a internacionalização” acontecerá
no dia 3 de novembro, às 18 horas, na sala Londrina, no
Memorial de Curitiba com entrada franca.
De
Bogotá, Tejada atendeu a Semana de Moda de Curitiba:
1)
Em sua opinião, como é a moda atualmente?
A
moda como tal, em sua concepção clássica,
assiste a mudanças dramáticas na forma como se concebe,
se demanda, se usa e se comunica.
A
nova consciência do desenho e as mudanças de
comportamento e gostos dos consumidores, a revalorização
frente à individualidade e a personalização do
consumo por ele mesmo, as mudanças de estilo de vida, o auge
do desenvolvimento tecnológico, especialmente em materiais e
insumos que atendem a exigências de conforto, funcionalidade e
de serviço. Considera-se a limitação no
fornecimento ou no uso dos recursos naturais que dão origem às
exigência de sustentabilidade no produto ou o serviço.
Enfim, todos estes são aspectos que modificam a percepção
da moda.
O
que compramos nos dias de hoje é uma expressão de
códigos linguísticos e de comunicação,
uma maneira de satisfazer-se nos desejos pessoais e de sentir-se bem.
A
moda se converte em um vasto banco de significados e estímulos,
o que permite às pessoas criarem e fortalecerem suas próprias
identidades e, com isso, determinar com quem se relaciona suas
compras.
A
moda se democratiza com a oportunidade de ter facilmente produtos de
baixo preço, com maior autonomia de consumo. As pessoas se
perguntam quais são as prováveis consequências
quando milhões de consumidores brasileiros, chineses, indianos
e russos compram moda pela primeira vez?
Os
fabricantes de vestuário e os mesmos estilistas enfrentam uma
série de desafios na mudança do símbolo do
status ao símbolo de estilos são determinantes. Já
o luxo clássico se restringe versus a pronta-entrega ou
vestuário com grandes descontos. Mas, em médio prazo, a
moda mudará ainda mais.
A
sustentabilidade obrigará os estilistas a se voltarem a
produtos que tenham características Premium (produtos
altamente atrativos).
2)
A velocidade da informação, pelas redes sociais, tem
influência no que se faz?
A
facilidade em obter informações e desenvolvimento em
geração e aplicação de conhecimento tem
uma velocidade impressionante. Cada vez é mais evidente a
comunicação e a interação em âmbitos
empresariais e sociais, o que é uma tendência
importante.
É
inegável também que a internet está se
convertendo em um canal de relações, serviços e
vendas. Além disso, o mundo na rede mundial representa
contínuo recurso de novos estímulos, o que torna mais
sutil o confim cada vez mais tênue entre o real e o virtual.
Os
locais, tanto virtuais como reais, se transformam em uma grade praça
que oferece oportunidades expressivas, quase ilimitadas para pessoas
e empresas.
Uma
coleção, casting e comunicação focalizada
não estão para oferecer produtos contextualizados em
cenários de consumo precisos. O sucesso global de MySpace,
Facebook e Twitter (entre outros) se alinha com esta tendência.
Hoje são elementos decisivos na evolução do
consumo. A relação entra a subjetividade (MySpace) e
potenciais interlocutores (YouTube) constitui ponto chave de
indivíduos ou de pequenos grupos, que se transformam
rapidamente em códigos comuns, compartilhados por um público
extenso e essa é a grande oportunidade.
3)
Qual o perfil de quem pensa em moda, é diferente do que se
fazia há alguns anos?
Não
creio que se possa definir um único perfil daqueles que se
fascinam pela moda. A moda não se impõe, cada um tem
suas opções e interpretações. Podemos
dizer que diferente de antes, agora cada um produz e edita a sua
moda.
4)
Em sua opinião, como é a moda na América Latina?
Quais os pontos positivos e negativos?
A
América Latina não está afastada dos movimentos
da moda e os efeitos da globalização a atingem.
Entretanto,
podemos dizer que a moda é ainda jovem. Influenciada pela
Europa e Estados Unidos em sua origem recente, hoje começa a
debater os conceitos de identidade. Alguns a definem a partir do
ponto de vista do folclore e o retomam para sugerir suas influências
na moda.
A
meu modo de ver, tem sido uma aproximação falha.
Devemos entender a identidade como um sistema, ligado logicamente à
cultura local, aos comportamentos locais, aos estilos mentais. Os
projetos com a moda devem ser a partir destes elementos, projetos com
identidade global.
A
América Latina tem muito que contar e começa a pisar
forte no cenário da moda.
5)
O que o senhor conhece da moda brasileira?
É
inegável como a moda brasileira é fértil. O
Brasil é um país com projeto de identidade cultural
extraordinariamente forte. Um país tão grande e diverso
que dá origem a um caos criativo extraordinário e
enriquecedor. São múltiplos os motivos que influenciam
a moda brasileira: a poderosa natureza e sua exuberância dão
ao Brasil um atributo exótico, os artistas, os estilistas e os
criadores dedicam muito de seus trabalhos á preservação
dos valores culturais, a seus recursos naturais e tradicionais, a
música que denota a riqueza e a diversidade cultural, o modelo
feminino da beleza brasileira exerce influência na estética
global.
A
combinação da moda com a arte, baseada na iconografia
brasileira, a arquitetura e a história, as ruas do Brasil nas
quais a vida cotidiana estimula a criação de seus
estilistas e que as converteram em um laboratório criativo.
Brasil
encarna, de maneira surpreendente, os valores das raízes
brasileiras e códigos estéticos e a inovação
na mescla cultural e o uso de materiais e cenários eu reforçam
a imagem de uma alma tropical.
Isso
fez com que a moda brasileira seja hoje na América Latina o
projeto mais forte com influência global importante. O país
tem marcas que estão no mercado internacional, além de
ter uma poderosa indústria. Mas deve reforçar a união
entre estilistas e confecções, entre estilistas e o
setor têxtil, entre estilistas e artesãos, entre
estilistas e distribuidores. Fortalecer a parceria público/privada
em prol do desenvolvimento de uma indústria que está em
plena expansão.
Haverá,
possivelmente, que proteger este patrimônio do embate da
competição internacional. E Brasil tem que fazê-lo.
6)
Qual sua previsão e conselho para os jovens estilistas que
começam a entrar neste concorrido mercado?
Para
estes jovens, penso que terão um futuro alentador. Como eu
disse anteriormente, a personalização do consumo, a
democratização da moda, a exigência de produtos
Premium com alto valor agregado, entre outros, serão fatores
de estímulo para a dinâmica da indústria da moda.
Eles
deverão cruzar múltiplos enfoques na construção
de seus negócios. Deverão focar no mercado e deverão
aprender a relacionar-se com o entorno econômico, social e de
negócios. Um enfoque comercial com suficientes argumentos de
venda, enfoque financeiro que o provenha ao cliente do suplemento de
valor que está disposto a pagar. A comunicação
dos significados e valores da marca, e por último, o enfoque
tecnológico que lhe permita a permanente inovação.
Para
muitos estilistas é muito fácil perder a perspectiva
dos clientes e consumidores. Uma estratégia de novos produtos
ou serviços implica entender claramente quem são estas
pessoas e de que maneira a inovação feita melhoraria
substancialmente suas vidas.
A
competição nos obriga a sermos inovadores e não
é unicamente conceber ideias geniais, mas implica antes deve
tudo na capacidade de proporcionar avanços tecnológicos
tangíveis em produtos e serviços que sejam valorizados
e tidos em conta pelos consumidores.
Em
outras palavras, ser inovador, mas pragmático. E por último,
para os jovens empreendedores do desenho da moda, são
plenamente vigentes as reflexões que Francesco Morace dizia há
alguns anos sobre a equação para o sucesso. A
continuidade e a evolução: a continuidade assegura a
identidade e a evolução assegura a modernidade. Esta é
a aposta estratégica.
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