terça-feira, 29 de setembro de 2015

Exposição 02/out - Bienal de Curitiba‏



Com um título que não esconde nem dá nada, “EXPOSIÇÃO TOTAL” parte do questionamento sobre identidade e hibridismo cultural que se encontra no núcleo do modernismo curitibano, e pretende criar uma reflexão sobre quais foram os processos que levaram a arte curitibana a se tornar hoje uma referência internacional. Numa inversão de papéis, a arte curitibana agora é canibalizada pelos artistas estrangeiros que se apropriam de seu simbolismo, de suas estratégias e de sua estética. Fomos direto pro internacional, nem passamos pelo nacional. Creio necessário que não haja mais que alusão. Nomear um objeto é suprimir três quartas partes do gozo de um poema. Isso é Mallarmé.

Fiquei parada nos títulos de duas pinturas: “Para amanhã sem falta” e “Uma hora mais ou menos”. Elas não estão nesta exposição, são dois trabalhos de Antonio Arney realizadas em 1966, apenas dez anos após a morte de Jackson Pollock. Esses títulos soam como algo que dizemos todos os dias e para cada “amanhã sem falta” prometido sabemos que muito hoje já se perdeu. Estas pinturas foram feitas com arranjos de madeira e ferro e em várias das madeiras podemos ver os traços deixados por cupins que já não estão lá.
- Uma hora mais ou menos é um tempo apertado. Tem que ser agora? Não estou vendo nenhum futuro imediato por aqui, tentemos de outro modo, vamos voltar alguns passos, quem sabe a gente consiga lá atrás abrir uma nova galeria e sair em outra câmara - disse o pequeno cupim de madeira seca.

Allan Kaprow escreveu que para a arte que vinha depois de Jackson Pollock só haveriam duas saídas. A primeira, continuar a pintar variando a estética de Pollock sem no entanto conseguir abandoná-lo ou superá-lo. A segunda, desistir completamente de fazer pinturas. Para Kaprow, mesmo Pollock não morrera sem antes sofrer este problema (da arte pós-Pollock). Seus últimos anos vividos, uns cinco, o impediram de “morrer no auge” e foram de enfrentamento com a mesma espécie de ressaca que estamos nós. Mas Kaprow propõe uma saída para a ultima alternativa - a que sugere parar de pintar - uma continuidade da arte pelo envolvimento no cerne da “arte como um grupo de fatos concretos vistos pela primeira vez”. Uma saída que começa também pelo legado de Pollock: o modo cego, o caráter direto, a crença calada em tudo o que se faz. Eu não pinto a natureza, eu sou a natureza.

Dizer que o artista descobriu coisas como marcas, gestos, tinta, cores, dureza, suavidade, fluidez, pausa, espaço, o mundo, a vida e a morte, pode soar ingênuo. Todo artista digno de tal nome “descobriu” essas coisas. Annette Skarbek, Cristina Jardanovsky, Julia Ishida, Livia Piantavini, André Mendes, Antonio Arney e Samuel Dickow, já descobriram essas coisas e têm pinturas tão diferentes que dificilmente serão atingidas pelas mesmas palavras. Eles estão na Galeria Zilda Fraletti e na Farol Galeria. Alex Hamburger, Ana Bellenzier, Fabio Noronha, Henrique Jakobi e André Mendes realizarão ocupações temporárias: palestras, oficinas, encontros e performances onde serão tratados assuntos relativos ao contexto produtivo, receptivo e distributivo da arte e acontecerão no espaço da Farol Galeria de Arte e Ação [ver programação]. Laura Miranda, Monica Infante, Eduardo Freitas, Juliane Fuganti, Bernadete Amorim e Traplev participam com vídeo, esculturas, objetos e publicações: a parte visível e em transito de operações complexas. A presente seleção de artistas e obras foi pautada pelos interesses particulares desses artistas. Nada de transformar uma contingência histórica em eternidade, nada de imobilizar o mundo.

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